
Avenidas congestionadas. O medo vive nas cidades. Nas lojas e restaurantes o cliente raramente tem razão. A pressão da vida nas grandes cidades incomoda qualquer um. Mas para Willian Foster, isso tudo é mais do que um incômodo. Preso em um engarrafamento num dia quente de verão, Foster tem uma espécie de colapso nervoso devido ao calor e ao estresse. Emocionalmente perturbado, decide abandonar seu carro no local e seguir a pé para a casa de Beth, sua ex-mulher, e da filha, sem sequer reconhecer que o seu casamento já acabou há muito tempo. Porém, no decorrer do trajeto ele é gradualmente envolvido pela violência das ruas de Los Angeles, um pesadelo urbano que se torna absurdamente engraçado e violento. Em seu caminho, Foster vai eliminando quem cruza seu destino. Para ele, chegou a hora de dar o troco. Prendergast, um policial em seu último dia de trabalho antes de se aposentar, arrisca sua vida para tentar detê-lo.
O filme é narrado em uma única e gigantesca montagem paralela: uma dia na vida desses dois homens comuns, cada um tendo que lidar com os problemas do cotidiano e com uma situação fora do comum. É interessante observar a simetria perfeita que Schumacher conseguiu imprimir aos dois personagens principais. Ambos estão presos no mesmo engarrafamento quando o longa-metragem começa, e se encontram também no mesmo lugar quando o filme termina, com uma cena alegórica muito bonita. O recheio é de primeira qualidade. Schumacher faz comentários sociais corrosivos sobre o fracasso do “sonho americano” e não perde a oportunidade de alfinetar os curiosos hábitos comerciais das lanchonetes norte-americanas, em uma das sequências mais satíricas do filme. Na verdade, a construção psicológica do protagonista é uma das mais interessantes vistas no cinema americano recente. Ele tem uma lógica perfeita e uma explicação racional para cada um dos atos tresloucados que comete. Essas justificativas se ancoram, sempre, em algum tipo de idiossincrasia típica da sociedade americana, como a obsessão por armas de fogo, o fenômeno das gangues formadas por latinos ilegais e a xenofobia. A trajetória do personagen, que se enreda cada vez mais profundamente em um abismo sem saída que não consegue perceber, é ao mesmo tempo angustiante e bem-humorada; poucos filmes ousam trabalhar nessa fronteira com a desenvoltura deste aqui. Falling Down se constitui como a melhor obra da carreira de Schumacher, bem como um pequeno e subestimado clássico do cinema dos anos 90.
Falling Down foi rodado durante os distúrbios ocorridos na cidade de Los Angeles, em 1992. Para quem não sabe, foi a guerra civil em que Los Angeles se meteu em 1992 após o espancamento do negro Rodney King por policiais brancos. O que mais impressionou na época foram as cenas da revolta: jovens negros tomaram o bairro de South Central. Berço de Hollywood e segunda maior cidade dos Estados Unidos, Los Angeles foi abandonada pela polícia, que temia pela reação (justificada) da comunidade negra após o espancamento e absolvição dos policiais brancos. Morreram 60 pessoas. Incrível, foi há apenas 17 anos...
Vale a pena ver de novo (ou conhecer) a saga de Foster, um cara comum em guerra com as frustrações do dia a dia... As legendas em português estão aí...
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