quinta-feira, 9 de julho de 2009

Martyrs (2008)

Depois de uma passagem pelo oriente, o terror parece ter encontrado seu lugar na Europa. O cinema de horror francês é atualmente um dos mais violentos e perturbadores, com filmes tensos e carregados de gore em roteiros que prendem a atenção e que, principalmente, ficam na memória do espectador. Há alguns anos tem exportado uma leva de filmes não recomendados para quem tem coração fraco e estômago sensível, como Haute Tension, Ils, Frontière(s) e À l'intérieur. Seu filho mais novo, Martyrs, se distingue de seus outros parentes pois escolhe lidar com seu assunto e seu pedigree com uma reflexão mais intensa.
Causou grande comoção no 8º Toronto International Film Festival, dividindo opiniões. Filme polêmico por mostrar violência de forma crua e realista em suas cenas, provocou enorme reação na França pelo fato da censura tê-lo classificado para 18 anos. Após muito apelo dos realizadores foi reclassificado como 16 anos. É provavelmente o mais original e mais perturbador filme de horror da década.
Lucie, uma garota de 10 anos, esteve desaparecida por um ano quando é finalmente encontrada num distrito industrial, louca e desorientada, sem conseguir contar o que aconteceu. Seu corpo apesar de maltratado não tem indícios de violência sexual, então é levada a uma instituição para crianças onde se afeiçoa a outra garota chamada Anna, que passa a cuidar dela e estreitar os laços de amizade para que supere a experiência traumática que viveu. 15 anos depois, Lucie está completamente fora de controle, em busca dos responsáveis por todo aquele sofrimento, envolvendo Anna em acontecimentos com consequências imprevisíveis.
Terrivelmente violento e recomendado para quem tem estômago forte, em Martyrs o esmagador talento do diretor Pascal Laugier renova de maneira explosiva o cinema de terror. Ele vai conduzindo o espectador por um emaranhado de dúvidas que só parecem aumentar, mantendo o clima tenso. Este não é um filme que revela sua patologia com facilidade, a impressão é de que a cada 10 minutos o filme dá uma reviravolta mudando totalmente seu estilo. O filme sofre uma série de metamorfoses, passando de filme de vingança, a terror, a suspense e chegando a ser inclusive um filme de crueldade, e no final não é nada disso. Martyrs acaba não pertencendo a nenhum desses gêneros em que trafega. Essa é a surpresa do filme, descobrir do que se trata, e a revelação acaba sendo não só incômoda mas de uma dimensão inimaginável.
Um filme que exige bastante psicologicamente do espectador, mas que no final das contas lhe deixará maravilhado. Uma das coisas que torna Martyrs especial é ver a evolução e o desenvolvimento da trama, ficar esperando o que irá acontecer logo em seguida.
A parte técnica como um todo é impecável. Várias sequências tiram o fôlego. A atuação das duas protagonistas é digna de destaque. No que diz respeito ao terror, vários sustos e tonéis de sangue garantem essa parte, mesmo que o forte seja a história. Idem para o suspense, a trama prende, não perde ritmo nem sentido em nenhum momento, fazendo com que olhos fiquem bem abertos até a hora dos créditos.
Com certeza é um filme que se sustenta não só de imagens fortes, mas também de certa reflexão sobre a curiosidade mórbida do ser humano. Martyrs não é um filme de terror com mortes, mas sobretudo, sobre a morte. Seria mais fácil assistí-lo se fosse mais um filme onde o sobrenatural se encarrega de justificar e legitimar os acontecimentos. Martyrs no entanto, é mais chocante e aterrorizante porque se baseia em elementos reais da curiosidade humana.
São filmes como Martyrs, que ao se voltarem ao meio da violência para dela extraírem algo e a analisarem, nos mostram que ainda há território a ser explorado dentro do gênero. Quem disse que o terror não pode ser inovador e inteligente?
Quer dar uma espiadinha? Então está aqui, com legendas em português:

torrent

8 comentários:

Control Denied disse...

Grande filme! :)

Tomate disse...

É isso aí, Control Denied!
Fiquei muito surpreso quando assisti.
Abraços...

Dulmare disse...

Que filme intenso e pertubador. Fazia tempo que eu nao assistia um filme que trouxesse tantas surpresas.
Parabens pelo blog, assisti varios filmes daqui que estao me dando uma visao completamente nova sobre cinema.

Tomate disse...

Dulmare,
Concordo com sua opinião sobre o filme, também achei muito perturbador e surpreendente!
E obrigado pelos elogios, fiquei até arrepiado! É muito bom saber quando nosso trabalho está agradando! Obrigado pelo apoio!
Abraços!!!

Andressa disse...

Acho que o público-alvo desse filme é masculino.

Tomate disse...

Andressa,
Apesar de mostrar violência contra mulheres, não acredito que o público-alvo de Martyrs seja masculino...rs.
Ter mulheres como protagonistas em filmes violentos é uma "tendência" atual, talvez pelo fato de ser mais chocante ver uma mulher ser maltratada do que um homem.
Só na França temos como exemplos bem conhecidos Frontière(s), À l'intérieur, Haute Tension...
Minha namorada mesmo adorou Martyrs!!! E ainda recomenda para todas as amigas dela...rs
Obrigado por acompanhar o nosso blog!
Abraços...

Luciano disse...

Cara, fico feliz que a minha resenha tenha servido de inspiração para a tua, só acho que você deveria ter citado a fonte, até porque a algumas partes do teu texto foram copiadas do meu: "Depois de uma passagem pelo oriente, o cinema de terror parece ter encontrado seu lugar na Europa...Terrivelmente violento e recomendado para quem tem estômago forte...Mártires vai conduzindo o espectador por um emaranhado de dúvidas que só parecem aumentar". Não me importo que até peguem todo o meu texto e usem, desde que seja citada a fonte. Quem quiser conferir o meu texto e tirar a dúvida: http://lovenomore.wordpress.com/2009/04/04/martires-martyrs-franca-2008/

Anônimo disse...

Amei esse filme, toda a crueldade e essa coisa toda que envolve a religião, achei show de bola. :D
valeu tomateee!