Supostamente inspirado numa história real, Ben X – A Fase Final é o filme de estréia do crítico de cinema Nic Balthazar e também o escolhido para representar a Bélgica na corrida ao Oscar de Filme Estrangeiro em 2008.
Escrito pelo próprio Balthazar a partir de seu bem-sucedido livro (e da igualmente bem-sucedida peça inspirada por este), o longa gira em torno de Ben, um jovem que, portador da síndrome de Asperger (espécie de autismo), é constantemente brutalizado por seus colegas de colégio e que, como fuga, mergulha no universo criado pelo jogo online “Overlord”, no qual alcança um alto nível que desperta o respeito dos demais jogadores/personagens. Tornando-se amigo de uma jogadora cujo nick é “Scarlite”, Ben fantasia sobre um possível encontro com a garota – mas logo tem sua atenção desviada pelos ataques cada vez mais cruéis de dois jovens de sua sala.
Dirigido com admirável energia, o filme não apenas emprega cenas inteiras criadas por jogadores de “Overlord” na Internet como ainda traz o jogo para o cotidiano de Ben – como no instante em que ele explica como cria seu “avatar” e vemos uma seta de mouse percorrendo a tela e selecionando as peças de roupa que o rapaz vestirá para ir para a escola. Além disso, Balthazar intercala, na narrativa, depoimentos dos demais personagens em um estilo documental, revelando também uma criatividade ímpar ao ilustrar o ponto de vista de Ben.
Mas se Nic Balthazar surge como revelação neste projeto, o mesmo deve ser dito com relação ao jovem ator Greg Timmermans, que, já em seu trabalho de estréia, exibe uma segurança impressionante ao evitar que Ben se transforme numa caricatura ao mesmo tempo em que inclui, em sua composição, todos os tiques particulares da síndrome de Asperger, como o hábito do rapaz em manter os olhos voltados para o lado e para cima, evitando qualquer tipo de contato visual com seus interlocutores; sua mão contraída em um estado de permanente tensão; os ombros contraídos que indicam sua vulnerabilidade diante dos demais; e os pés inquietos que revelam seu desconforto constante.
Enriquecido ainda por uma direção de arte que ilustra a tristeza do universo de Ben, e por figurinos que ajudam a estabelecer a influência positiva de Scarlite sobre o protagonista (ela é a única que usa um vermelho intenso e alegre; os demais vestem-se em tons de cinza), Ben X é um projeto artisticamente ambicioso que revela sua sensibilidade particularmente através de seus belos diálogos: ao descrever a doença de Ben, seu pai diz que a síndrome era “um problema dele; não para ele” e o próprio rapaz, em sua excelente narração em off, acrescenta: “Nunca fui o que chamam de ‘feliz’, mas nunca fui feliz como agora”.
Ben X é um filme muito bonito, muito sensível e acessível. Para quem gosta de filmes com temáticas que abordam “cultura e sociabilidade”, Ben X vale a pena. Um filme imperdível! Contar mais tiraria a surpresa de toda essa história, que é muito bem contada. Um filme perfeito em tudo. Além de uma trilha musical lindíssima! E uma curiosidade: Ben X, nome do personagem, se pronunciado rápido em holandês temos a palavra Benniks que significa "eu não sou nada".
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