sábado, 2 de maio de 2009

Jacob's Ladder (1990)

Jacob é um ex-soldado no qual a Guerra do Vietnã deixou marcas profundas e irreversíveis. Constantemente Jacob vê seres estranhos ameaçando-o de morte, com suas lembranças do passado ao lado de sua família se misturando a alucinações desconexas de algo que aconteceu na guerra e que alterou radicalmente sua percepção da realidade. Contando apenas com o apoio de sua namorada Jezebel e de seu amigo Louis, Jacob tenta descobrir a causa verdadeira de seus delírios.
Jacob é um mistério que vai sendo revelado aos poucos. O filme, porém, é muito mais do que ele, e para compreender o que está se passando com a mente do sujeito é preciso saber “ler” as pistas enviadas pela exímia direção de Adrian Lyne. Os nomes bíblicos dos personagens (Jezebel, Gabriel, Sara, Paulo) informam ao espectador que há mais no quadro pintado pelo filme do que conseguimos ver. Mas o que seria esse mais? Como explicar as premonições, os fantasmas, as visões bizarras do protagonista? É tudo esquizofrenia ou há algum elemento sobrenatural por trás de tudo?
É difícil acreditar que Jacob's Ladder foi dirigido pelo mesmo homem responsável por “Flashdance” e “9 ½ Semanas de Amor”. Aliás, o roteirista Bruce Joel Rubin é o mesmo de “Ghost”. Não há dúvida de que ambos fazem, aqui, o melhor trabalho de suas carreiras. A concepção visual é rica, a trama é coerente e muito bem bolada, e o filme funciona como um todo, desde a abertura literalmente explosiva até o final impactante e melancólico.
Bruce Joel Rubin escreveu o roteiro de Jacob's Ladder nos anos 70 e durante anos tentou levá-lo às telas sem sucesso. Foi apenas quando o projeto chegou às mãos de Adrian Lyne que o filme realmente saiu do papel, com o diretor trabalhando com Rubin para reescrever o roteiro.
É um sombrio e inquietante thriller que ilustra à perfeição o modo como funciona uma mente esquizofrênica. O tema do trabalho do diretor Adrian Lyne é o tênue limite entre sonho e realidade. Toda a atmosfera do filme funciona no sentido de deixar a platéia no escuro. Lyne investe em um visual pesado, escuro e de poucas cores, para transformar o seu filme em uma espécie de pesadelo gótico inspirado por pinturas macabras de Francis Bacon. O longa-metragem investiga com perícia os limites entre o que é real e o que é ilusão.
Uma pena a péssima tradução do título para o português (Jacob's Ladder = A Escada de Jacó). Nada a ver com Alucinações do Passado.
Uma curiosidade: todos os quatro títulos da série de jogos Silent Hill contém referências ao filme Jacob's Ladder. Silent Hill gradualmente declina da normalidade estilizada e decai para o que parece uma lembrança próxima da estética visual do filme. E os monstros de Silent Hill, a maioria das vezes, aparecem com as mãos tremendo rapidamente de lado a lado, de um jeito anti-natural e bizarro, uma ligação direta com o estilo visual de Jacob's Ladder. Silent Hill 2 implica a noção da cidade ganhar aspecto de purgatório pessoal, outra similaridade com o tema do filme. Outra referência forte é no jogo Silent Hill 3, no qual se usa o nome Bergen Street para a estação de metrô onde Heather se encontra. A estação de Bergen Street é uma parte significante em Jacob's Ladder e o cenário se parece muito. Similarmente, o "Mundo do Metrô" em Silent Hill 4: The Room, que é surreal e tem saídas bloqueadas, parece muito com o filme.
Jacob's Ladder é o tipo de filme cujo final acende uma luz diferente sobre tudo o que veio antes. Acredite: depois de uma sessão de Jacob's Ladder, você vai querer rever o filme para tentar refletir sobre tudo o que viu. A experiência fará o filme crescer ainda mais para os amantes de tramas complexas e diferentes. Jacob's Ladder é um filme para guardar na estante.
E a doideira está aí, junto com as psicodélicas legendas em português!

2 comentários:

Ingmar Trindade disse...

Um dos grandes filmes da década de 90, mal lançado, pouco divulgado e injustamente esquecido.
Obrigado por postá-lo.

Abs

Tomate disse...

Ingmar,
Concordo plenamente! Você tirou as palavras da minha boca...rs
Abraços!